quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Ambiente Escolar Enquanto Espaço dos Fenômenos Sociais

Da série de experiências tidas através dos contatos com o espaço escolar – que, apesar de ser uma unidade específica de ensino, poderia por seu alto grau de complexidade ser chamado “universo” – resulta em um conjunto de sensações que se revelam ambíguas.
Em primeiro lugar, parte dessas sensações evoca nossa memória, abrange sentimentos de familiaridade com o espaço em si (e somente com este), produzindo um estado de espírito ligeiramente similar ao pertencimento. No entanto, a observação e a interação dentro deste espaço nos trazem um segundo momento, em que as impressões sensoriais próprias da alteridade nos ocorrem.
Então percebemos que de alguma maneira e por fatores variados, o afastamento necessário à objetividade da pesquisa, ou pelo menos parte dele, já está configurado. Quem pertence a determinado espaço pensa conhecê-lo, e por isso poderíamos transferir pré-noções aos resultados de nossos estudos e observações.


Compreender as especificidades da instituição de ensino é fundamental para o direcionamento eficaz dos trabalhos do PIBID de Ciências Sociais da UEL, e neste sentido o método antropológico de observação tem sido um grande aliado. Através dele nos despimos daquilo que pensamos saber sobre a organização e funcionamento da escola ou sobre os padrões de relacionamento nela existentes.
As observações feitas através deste método nos levam a um gradual conhecimento de aspectos bastante específicos do colégio, sem ocasionar perda ou prejudicar o objetivo principal deste projeto. Pelo contrário, este caminho de ingresso tem permitido pensar o papel do educador diante dos inúmeros desafios do processo educativo, revelando que o docente deve tornar-se sensível às demandas específicas de cada ambiente em que trabalha.
Caberá ao educador adequar seus instrumentos e meios de ação levando em consideração essas especificidades e desenvolver sua criatividade metodológica para transpor as barreiras que se colocam.
O trabalho de inserção que vem sido desenvolvido pelo grupo PIBID de Ciências Sociais, mais especificamente o grupo de bolsistas do Colégio Castaldi parte deste pressuposto de que devemos conhecer primeiramente aspectos relevantes de nosso campo de trabalho.
Nosso maior enfoque está na observação dos principais problemas manifestos na realidade cotidiana do colégio, ou seja, naquilo que chamamos “demandas específicas” e pertencem predominantemente à esfera das relações sociais. Pretendemos direcionar nosso trabalho para atenção destas demandas.
Os dados coletados até o presente momento levantaram demandas que perpassam categorias tão variadas que seria possível afirmar uma similitude entre a visão obtida até o momento e uma imagem caleidoscópica. É essa variedade que abre um leque de possibilidades para o estudo, a análise e intervenção, pois cria a possibilidade do comprometimento de todas as subáreas de pesquisa de nosso projeto e aplicação dos conhecimentos das três grandes áreas das Ciências Sociais (Sociologia. Antropologia e Ciência Política).
Há outro produto de nossas atividades em campo que penso ser muito positivo, e que, além disso, demonstra estar em contínua progressão. Trata-se do bom relacionamento com os professores do colégio. Estar em observação de todo o conjunto de relações existentes dentro da escola corresponde a registrar sobre as ligações existentes entre os diferentes grupos (alunos, professores, funcionários e toda equipe pedagógica) e nos grupos internamente.
A observação das relações e o próprio convívio com os docentes têm possibilitado um bom nível de integração com professores das mais variadas áreas de ensino. Muitos deles estão sempre dialogando conosco de modo receptivo e nos transmitindo parte de seus conhecimentos e experiências com o ensino. Estamos percebendo a variedade de disposição e de comportamento dos profissionais da educação diante dos desafios, obstáculos e demandas.
Não se pode desprezar o fato de que iniciar nossas atividades dentro do colégio traz suas dificuldades. Nós bolsistas somos o elemento novo dentro de nosso campo. Acredito que as dificuldades que provém do “estranhamento” estão sendo atenuadas no que diz respeito ao relacionamento com os docentes.
O desafio que nos espera é ainda maior: vencer essa mesma barreira que estamos quebrando, mas desta vez no relacionamento com os alunos. Os caminhos desta tarefa já estão sendo discutidos e pensados, e temos como oportunidade de interação os eventos realizados no Colégio com os quais nos comprometemos (como a Gincana Cultural, por exemplo).
A realização das observações, os registros em diário de campo, a articulação de metodologias e as pesquisas empreendidas são exercícios feitos a partir da análise do real, e nisto consiste para mim a maior satisfação que até o momento tive por fazer parte do PIBID/Ciências Sociais: o nível de realidade dos estudos.
Estes mesmos exercícios de pesquisa e utilização de métodos só haviam sido feitos no ambiente acadêmico, de modo muito teórico. A aplicação dos conhecimentos da Sociologia, Antropologia e Ciência Política, num contexto real, têm proporcionado estudos empíricos e transformado o conhecimento teórico em práxis.
Nós das Ciências Sociais não podemos dentro deste ambiente escolar nos identificar apenas com o espaço do ensino da Sociologia enquanto disciplina. A perspectiva do cientista social vai para além desta visão. A Escola é espaço da manifestação dos fenômenos sociais, talvez ela seja a instituição que mais nos forneça elementos e objetos de estudo propriamente sociais. Pode ser esta a possível contribuição específica do docente de nossa área para o âmbito do ensino e, provavelmente, essa capacidade de análise dos fenômenos dentro da escola o diferencia dos demais professores.


Ana Cláudia/ PIBID 

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